Por Verônica Roger
CRP 05/20049
Como ponto de partida, é interessante destacar a dificuldade histórica e antropológica de homens e mulheres na captura do que é “ser mulher”. Em diversas sociedades, em diversas organizações sociais ao longo dos tempos, a existência da discussão sobre o lugar da mulher na civilização significa um avanço considerável, na medida que assinala a perspectiva de uma reflexão sobre a relação entre os sexos ao longo da história.
As sucessivas conquistas da mulher ao longo do século XX (direito ao voto, ao estudo, ao trabalho, etc) operaram deslocamentos inexoráveis na sociedade. O fato é que em cem anos, barreiras milenares foram rompidas. O que era considerado imutável e natural é hoje passível de modificações.
A sociedade não mais se organiza em torno do modelo masculino, como na época da revolução industrial, e a mulher não é mais vista como a mãe de família, como a enfermeira, aquela que cuida do senhor que faz a civilização. Atualmente, o mundo organiza-se em rede, existindo uma pluralidade de possibilidades. As relações não mais se estabelecem por hierarquias, por competições, mas sim por parcerias e amizade. O advento da democracia, com o ideal de liberdade, igualdade e fraternidade está muito mais próximo do “ser mulher” do que o mundo de ontem.
A célebre afirmação de Simone de Beauvoir, “ninguém nasce mulher, torna-se mulher” é um questionamento contundente da idéia de uma essência eminentemente feminina. No entanto, em que pese os avanços do feminino na conquista do espaço público, é importante refletir sobre os discursos que se apresentam de forma insistente a respeito dessas conquistas e que estão virando senso comum, inclusive entre as mulheres.
A condição da mulher ainda é de extrema vulnerabilidade, no que diz respeito à liberdade, à sexualidade, aos interesses pessoais. Hoje em dia, como as mulheres casam, têm filhos, trabalham, apaixonam-se, nascem, morrem continua sendo objeto de crítica sobre o processo de “masculinização das mulheres”, revelando se forma explícita o quanto o exercício do espaço público ainda está associado às características do gênero masculino.
A mulher é singular, não sendo assim, passível de captura por nenhum tipo de conceito específico. A esse respeito, é importante pensar em que medida a lógica feminina, que admite contradições, conceitos e interesses singulares e que provocou importantes deslocamentos na sociedade, poderia contribuir para pensar novas formas do exercício da política, da sexualidade e dos laços sociais que não sejam de poder e de domínio.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
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